UA-78357878-1 A Line leu: 2016

29 de dezembro de 2016

Balanço de 2016 (ou: o que esperar de 2017)

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2016, né, gente? Esse ano foi um ano meio... meio. Muitas coisas ficaram pela metade e eu deixei de lado alguns projetos. Mas que tal fazer um balanço sobre como foi a leitura esse ano? Aqui no blog eu comecei a escrever em janeiro, então boa parte das coisas que eu li veio parar aqui quase que de imediato.

Deixei algumas das resenhas passarem por um motivo ou outro, e algumas eu vou retomar no próximo ano, algumas não. Por exemplo: esse ano eu li os dois primeiros volumes da Trilogia Cósmica, do C.S. Lewis, e estou esperando finalizar o último livro para escrever uma resenha só e avaliar a trilogia como um todo, já que os livros não fazem tanto sentido individualmente. O Estado de Narciso, que eu já li tem um tempão (já são 28 semanas desde que falei dele no instagram), mas mesmo assim ainda quero me aprofundar comentando sobre ele, porque foi um dos meus preferidos desse ano. Já O Livro Secreto, Pega lá uma chave de fenda, A Casa, Objetos Cortantes e Um estudo em vermelho eu li e não tenho muito a explorar na resenha, então vida que segue. Não vou escrever sobre eles aqui. mas clicando nos links você acessa uma comentário a respeito deles no instagram, caso queira saber o que eu achei.Você também pode me perguntar diretamente sobre eles nos comentários ou no Facebook! :)

A postagem mais visualizada do blog esse ano foi a resenha de Do Seu Pai, um dos projetos mais lindos da internet. Ela foi tão visualizada assim porque a página oficial do projeto compartilhou o link - uma das coisas mais SENSACIONAIS que me aconteceram esse ano, diga-se de passagem. É muito bacana conseguir essa interação com gente que você admira. A internet é uma ferramenta maravilhosa e  conseguir se comunicar diretamente com o autor é uma das maiores maravilhas desse mundo literário-digital. Em menor escala, isso também aconteceu com a pocket resenha que fiz no Instagram sobre o "Pega lá uma chave de fenda", da Ruth Manus, que viu a postagem, curtiu e comentou. ♥

Em 2016 foram 47 livros (confira todos aqui), o que dá uma média de 3,9 livros por mês. O que isso significa? Só significa que eu dei sorte de ganhar muitos livros, pegar vários emprestados e encontrar boas promoções. Não me sinto pressionada a bater uma meta em 2017, mas estou estimando ler 50 (porque é número redondo e meu TOC de Humanas fica mais quietinho assim).

O Top 3 de livros mais legais que eu li em 2016 é:
1. À Sombra da Figueira
2. Diga aos Lobos que Estou em Casa
3. O Canto do Dodô

Já o Top 3 de livros mais decepcionantes foi:
1. Harry Potter e a Criança Amaldiçoada
2. O Menino da Mala
3. A Casa

Algumas coisas estão planejadas para 2017, entre elas uma desafio de ler no mínimo 10 livros de autores nacionais, contemporâneos ou não, que eu estou-e-não-estou fazendo com a Dani. Esse ano foram só 4 livros nacionais. Melhor a gente resolver essa situação né? Vou fazer um post falando mais sobre isso, detalhando os livros que já escolhi para começar, e adoraria receber sugestões de livros nacionais para ler também!

O último livro de 2016 foi "Fahrenheit 451",  e o primeiro de 2017 vai ser "Caixa de Pássaros". Essas vão ser a próximas resenhas aqui do blog, se tudo der certo!

Espero que o ano literário de vocês tenha sido ótimo e que o próximo seja ainda melhor!

Até ano que vem ♥

27 de dezembro de 2016

Tirando o atraso (ou: as resenhas que eu não escrevi em 2016)

A Line leu - Resenhas de 2016 - Pax, A garota no trem, aceitação, pegando fogo, harry potter e a criança amaldiçoada, lolita,marketing 3.0,  achados e perdidos, desamores, a história sem fim,

Eu preciso admitir que dei uma enrolada boa nas resenhas desse ano. Deixei para a escrever depois e nunca mais toquei no assunto, passei resenha na frente, escrevi e deixei nos rascunhos, etc. Errei feio, errei rude. Para tirar o atraso e começarmos 2017 todos organizadinhos e felizes, eis uma coletânea de pocket resenhas com algumas que eu já deveria ter escrito e não tomei vergonha na cara a tempo (acontece, né):

Philip Kotler, Resenha, Livro, Marketing 3.0



Marketing 3.0, Philip Kotler - Um marco: o guru do marketing se rendendo ao Relações Públicas que vive em cada comunicólogo. Uma reflexão sobre a importância da missão e dos valores de uma empresa e sobre o comprometimento necessário para atingir o sucesso (e se manter por lá). Imperdível! 
Resenha - Coisas Frágeis- Neil Gaiman




Coisas Frágeis, Neil Gaiman - Sério. Alguém precisa pegar o Neil Gaiman pela mão, sentar numa poltrona confortável, e perguntar: "moço, você quer um abraço?". Com uma cabeça tão cheia de ideias tão melancólicas, sombrias e dramáticas, Mr. Gaiman certamente faria bom uso de um ombro amigo. Brincadeiras a parte, Coisas Frágeis reúne alguns dos contos mais legais de um dos meus autores preferidos. Adorei todos, com destaque especial para "O pássaro do sol" e "Um estudo em esmeralda".



A mulher do viajante no tempo - Resenha


A mulher do viajante do tempo, Audrey Niffenegger - Quando esse livro chegou até mim, eu já tinha assistido ao filme. Gostei tanto da versão cinematográfica que achei que seria difícil gostar do livro na mesma medida. Mas esse é um caso clássico de livro-que-é-melhor-que-o-filme e é impossível não se envolver com ele. Ri e chorei abraçada com essas páginas durante toda a leitura. Imperdível, tanto a versão em livro quanto a versão em filme. Essa história merece tocar todos os corações e mentes que puder ♥









Pegando Fogo - Por que cozinhar nos tornou humanos, R. Wrangham - Um desses livros malucos que eu compro e ninguém mais lê. Wrangham propõe nesse livro a teoria de que a grande revolução que nos diferenciou dos demais primatas não foi o consumo de carne, mas o consumo de alimentos cozidos. Muito bem amparado em teses e pesquisas diversas, o livro é bem legal para quem se interessa por entender melhor o processo da evolução humana :) 





A garota no trem, resenha, kindle



A garota no trem, Paula Hawkins - O "garota" no título e as minhas experiências recentes com literatura estrangeira me fizeram pensar que essa era mais uma história protagonizada por adolescentes. Para minha surpresa, a protagonista é uma alcoólatra já beirando os 40. Um romance policial intenso e que te prende até o último minuto, "A garota no trem" é um achado e vale a pena DEMAIS. 



Aceitação, Jeff Vandermeer, resenha, trilogia comando sul



Aceitação, Jeff Vandermeer - E é isso aí, a trilogia mais maluca da vida inteira chegou ao final. Com "Aceitação", esse doido do Vandermeer nos leva de volta à Área X para a conclusão (ou não) da história do Comando Sul. Em capítulos intercalados entre 4 personagens em 3 tempos diferentes da história, algumas respostas vão surgindo e algumas coisas ficam no ar mesmo assim. Para explodir a mente, tirar o fôlego e te deixar louco: não deixe de ler a trilogia! Confira as outras resenhas clicando aqui.




Pax, Sara, Livro, Resenha


Pax, Sara Pennypacker - QUE COISA MAIS AMORZINHO. Ganhei de aniversário da Dani e essa edição é linda, de capa dura e com ilustrações delicadas ao longo dos capítulos. Essa história de amor entre um menino e sua raposa e uma raposa e seu menino é algo com o que todos nós podemos nos relacionar. Se você já foi uma criança amando um bichinho, com certeza vai se emocionar. Fora que a Vola, coadjuvante na busca do menino, é uma das personagens mais sensacionais que eu já conheci nos livros. Leiam!




Lolita, livro, Nabokov, resenha


Lolita, Vladimir Nabokov - Tempo de reler os clássicos. Esse ano comprei o ebook de Lolita e finalmente li a história que já conhecia quase que por osmose. É difícil de engolir e é preciso lembrar o tempo todo que estamos lendo a história pelo ponto de vista do "vilão", que o tempo todo se coloca como vítima dos próprios instintos. Tenho certeza que Lolita pelo ponto de vista de Dolores teria outro clima (talvez ainda mais difícil de ler). Vale a leitura pelo conhecimento. 




Achados e Perdidos, Livro, Brook Davis, resenhaAchados e Perdidos, Brooke Davis - Depois de tanto livro com adolescentes no destaque, é delicioso e revigorante ler um protagonizado por uma criança de 8 anos e dois idosos de mais de 70. Depois de ter sido deixada pela mãe em uma loja de departamento, Mille conhece um casal de velhinhos cheios de problemas e coisas mal resolvidas e se mete em uma enorme confusão para tentar encontrar de novo sua mãe. Enquanto coleciona "coisas mortas" em seu livro (desde a morte do pai até a morte de uma aranha), Mille ganha os nossos corações e repete seu mantra por aí: "Você vai morrer. Está tudo bem.".O final é uma pouco bagunçado e muitas cenas chegam a ser nível sessão da tarde de tão surreais, mas recomendo muito a leitura. Uma graça :)






(releitura) A História sem fim, Michael Ende - Reli "A História Sem Fim" depois de ganhar essa edição da Dafne de aniversário. É uma das minhas histórias preferidas e acho que é um livro desafiador para crianças, recomendo muito o incentivo dessa leitura para crianças a partir dos 10 anos. Voltar a visitar Fantasia é sempre uma delícia ♥






Desamores, Eduardo Baszczyn, Resenha


Desamores, Eduardo Baszcyn - Bem bad vibes, "Desamores" conta a história dos encontros e desencontros de três casais centrais. As reflexões são duras e é complicado aceitar que muitas vezes ficamos presos nos mesmos ciclos por muitos anos antes de entender que algo precisa ser feito. Um final difícil e um livro lindo, mas não recomendado para quem anda meio triste. Vai ouvir umas músicas alegrinhas e só depois começa a ler esse, ok?





Harry Potter 8, Harry Potter e a Criança Amaldiçoada, resenhaHarry Potter e a Criança Amaldiçoada - Eu li "Harry Potter e a Criança Amaldiçoada" emprestado da minha prima, porque estava bem insegura de comprar. Não me arrependo: lendo esse livro me deparei com variações tão grandes na personalidade dos personagens originais e com enredos tão difíceis de engolir que acho que não faço questão de uma cópia dele na minha estante. Não é a pior coisa do mundo, tem pontos positivos e engraçados, mas no fim das contas parece bastante com uma fanfic. Inclusive, os enredos de "A very Potter musical" e "A very Potter sequel", musicais fan-made disponíveis legendados no YouTube, são mais legais (um deles inclusive usa a mesma ferramenta do livro para continuar a história). Recomendo a leitura apenas para conhecimento, mas não coloquem tanta expectativa nele. É um livro apenas legal - mas todos sabemos que a série original da J.K. Rowling merece um pouco mais do que isso.


É isso, gente. 2017 está quase aí e nos reserva leituras incríveis! Me acompanha nessa? Até já! ♥ 


11 de dezembro de 2016

[Resenha] do seu pai, (ou: pedro, eu terminei o seu livro)

do seu pai, pedro fonseca
Título: do seu pai,
Autor: Pedro Fonseca
Editora: Independente, projeto apoiado via Catarse
Ano: 2016

Pedro,

Eu terminei de ler o seu livro. E, preciso te dizer: que lindo que ele ficou!

Eu estava ansiosa para ler seus textos no papel, mesmo sabendo que eu os conhecia das múltiplas telas, mesmo sabendo que eu os reconheceria durante a leitura. Eu estava ansiosa porque sabia, também, que eu me emocionaria e me encantaria outra vez por você, por sua esposa e por seus filhos. É como ter acesso ao álbum de fotos da sua família. E eu adoro álbuns de família.

Quero te contar que amei cada pequena história, assim como já amava toda a ideia do seu projeto. Quero te contar que eu usei um marcador de páginas para ler o seu livro. Um marcador de verdade, não um pedaço de papel dobrado, um cartão de visitas, um recibo do banco, nada disso: um marcador de páginas que nasceu marcador de páginas. Logo eu, Pedro, que devoro os livros e memorizo a página onde eu estou. Logo eu, que não gosto dos marcadores e acho a história sempre mais importante do que o livro enquanto objeto. Eu, que prefiro que os meus livros tenham e contem sua própria história. Eu, que olho papel e vejo papel, olhei o seu livro e vi um tesouro.

Porque esse livro, Pedro, sempre vai ser o livro do qual eu fiz parte. Sempre vai ser o livro que veio com uma carta sua. Um livro que eu apoiei sobre um projeto que eu já divulgava para todos que eu podia, desde 2013. Um livro que eu quero que os meus filhos leiam e, por isso, quero que ele chegue inteiro nas mãos deles.

Quero te agradecer, Pedro, por ter dividido essas histórias conosco, do lado de fora do seu mundo. Lendo suas cartas a gente consegue se compreender melhor. Consegue olhar em volta e enxergar profundidade nos nossos pais, avós, amigos, sobrinhos. A gente consegue se convencer de que a vida é maior do que a pequeneza em que tentam nos forçar. Consegue perceber que o mundo é maior que as nossas próprias fronteiras.

Que sorte, Pedro, ter encontrado a sua história nessa internet tão grande. Que sorte do mundo, que vai ver João, Irene e Teresa crescerem, que vai vê-los crescidos. Que sorte do Joaquim vir fazer parte de um jardim tão florido. Que sorte a nossa de estarmos vivos, de podermos repensar nossas vidas e comportamentos todos os dias.

Que sorte a nossa.

Mande um abraço aos seus.
Parabéns pelo projeto, pelo livro e pelos filhos lindos.

Da sua leitora,

Aline.
________________________

O do seu pai, é um projeto de Pedro Fonseca que eu acompanho online há alguns anos. O livro reúne algumas das cartas e fotos da série e foi financiado através do catarse em 2016. Para quem não soube na época do projeto do catarse, a 2ª edição do livro pode ser adquirido no site da Editora Zouk, com o mesmo conteúdo em algumas outras versões de capa. Recomendo a todos :)

Você pode (e devia) acompanhar o "Do seu pai," no Facebook e no site.





18 de outubro de 2016

O primeiro livro que eu (re)li (ou: porque reler os seus livros)

Desde que eu me lembro, estou lendo.

Durante a infância, achava as cartilhas e gibis da Turma da Mônica tão divertidos quanto qualquer outro brinquedo. Passava horas brincando de escolinha, de redação, de biblioteca. Mas o primeiro livro que eu li foi "Transplante de Menina", da Tatiana Belinky, que ganhei aos 8 anos. O livro veio em um kit, prêmio de participação em um concurso de redações. Nada do que veio no kit foi tão bem aproveitado quanto o livro da Tatiana, que estava ela própria presente no evento de premiação, toda redonda e velhinha, com sua cara de avó de desenho animado.

Tatiane Belinky via Educar para Crescer - Abril
Tatiana Cute-Cute Gracinha Belinky

Eu reli "Transplante de Menina" pelo menos 7 vezes. Me apaixonei pela história biográfica da menina que foi transplantada da Russia para o Brasil e precisou adaptar todos os seus gostos, hábitos, sonhos e linguagem para um país totalmente diferente. Essa história me marcou muito e eu fiquei genuinamente triste quando soube do falecimento de Tatiana, em 2013.

O que tornou esse um livro tão essencial e marcante na minha vida foi o fato de ele ter me tratado como uma leitora, não como uma criança. Isso fez toda a diferença e, desde então, eu busquei por livros e histórias que me respeitassem. Em um mundo com "Transplante de Menina", porque raios eu deveria ler um livro ruim? Melhor reler um bom.

Transplante de Menina - Editora Moderna, Ed. 1995
A edição que eu carreguei para lá e para cá, que é toda ilustrada e linda

Não costumo abandonar livros pela metade, mas ao longo dos anos me deparei com muitas histórias que não me cativaram. Quando a história chega ao fim, muitas vezes eu fecho o livro com a certeza de que nunca mais vou querer abri-lo. Mas, ainda bem, o contrário acontece na mesma medida.

Algumas vezes, você está lá tentando ler todos os livros que as pessoas te indicaram, os que você escolheu, os que clicou e os que te emprestaram. E aí, de repente, você vai na sua prateleira buscar qualquer coisa e, quando menos espera, reconhece um livro te conquistou e te deixou com aquela sensação (deliciosa) que você não podia deixar aquela história ir embora. Tarde demais: você precisa ler de novo.

Tem livro que dá vontade de começar a reler na mesma hora que ele termina. Quando eu li “Vidas Secas” na escola, soube que aquela era uma história que eu ia continuar querendo ler para o resto da vida (segue sendo verdade). Isso aconteceu também com “O Nome do Vento”, que eu já li três vezes, e durante as esperas de lançamento dos últimos livros da saga Harry Potter, tempo em que reli os quatro primeiros. Eu estou sempre relendo livros para matar o tempo, nem que seja apenas para ler de novo os meus trechos preferidos. Algumas vezes, depois de um livro muito denso, muito triste ou muito ruim, eu simplesmente preciso ler alguma coisa confortável e segura, como os meus livros preferidos.

Coleção completa Harry Potter - via Vírgula UOL


Reler um livro do qual você tenha gostado é como reencontrar um amigo, visitar a escola onde você estudou ou mesmo olhar para uma fotografia antiga e começar, aos poucos, a lembrar de coisas que você não sabia que ainda estavam na sua cabeça. Sabe aquela nostalgia gostosa de ser familiar a uma coisa ou situação mas já não ter certeza dos detalhes? Saber que tem uma sorveteria perto de um lugar onde você trabalhava, mas só lembrar do atalho que leva até lá quando você já está na rua certa? É parecido com isso.

Aquele velho ditado de que um homem nunca pisa duas vezes no mesmo rio (porque na segunda vez o rio já não é o mesmo, e nem o homem) vale aqui também. Sempre que você relê um livro, encontra nele algo que não viu na primeira vez.  Eu reli "Cleópatra" com um intervalo de mais de um ano entre as leituras. Foi como ler um livro completamente diferente e acho que gostei mais dele depois disso.

Se a sua memória for meio maluca, como a minha, talvez você leve os sustos de novo, se emocione outra vez e se surpreenda novamente com a revelação do assassino – ou, melhor: talvez encontre todas as pistas que apontavam para o vilão e que você não percebeu na primeira leitura. Mas pode ser que você releia o livro e não consiga entender porque gostou tanto da primeira vez. Tudo bem: aí você pode refletir sobre o tipo de leitor que você era e o tipo leitor que é agora.

E aí? Que tal tirar a poeira do seu livro preferido e se reencontrar com uma história?

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Os livros citados aqui:

Transplante de menina, Tatiana Belinky
Vidas Secas, Graciliano Ramos
O Nome do Vento, Patrick Rothfuss
Cleópatra - Uma biografia, Stacy Schiff

29 de agosto de 2016

[Resenha] Cuidado com pessoas como eu (ou: uma história sobre o lado de dentro)

Resenha - Cuidado com pessoas como eu - Eduardo Baszczyn
Título: Cuidado com pessoas como eu
Autor: Eduardo Baszczyn
Ano: 2012
Editora: 7 Letras
Gênero: Romance/ Literatura Nacional
Avaliação: ⭐ ⭐ ⭐ ⭐ ⭐

Resenha no instagram :)

Eu já acompanho os escritos do Eduardo Baszczyn há um bom tempo. Quando conheci o blog dele, o ótimo "Coisas da Gaveta", fiquei encantada pelos textos curtos e poéticos, pela crueza e verdade que eu via neles. Infelizmente não tive como comprar os dois livros dele em seus lançamentos, mas esse ano tem sido um ano de resolver pendências e eu finalmente comprei, no Estante Virtual, o "Cuidado com pessoas como eu" e o "Desamores".

Li "Cuidado" em pouco tempo e alguns dos trechos desse livro me acertaram em cheio, bem no meio dos sentimentos que eu estava deixando para lá. Enquanto ouvimos o monólogo de Luísa, que se recusa a abrir a porta para o ex-amor do lado de fora, aprendemos mais sobre o lado de dentro do apartamento – e sobre o lado de dentro de Luísa.

Essa não é uma história linear e, por seguir a linha de raciocínio de uma Luisa perdida, às vezes é repetitivo e se perde no caminho. Em alguns momentos é um pouco cansativo tentar compreender a linha temporal que a narrativa segue, mas é preciso abrir mão disso para aproveitar a leitura. Nossa narradora não está interessada em fazer sentido, mas em desabafar. Luísa quer preencher o silêncio das páginas em branco e o nosso papel, enquanto ouvintes-leitores, é só esse. Ouvir. Ler. Aceitar Luísa. E só.

O livro inteiro é uma provocação de sentimentos e ações que te prende e te incomoda. Tentar absorver a história toda e reconstruir em nossa imaginação o relacionamento vivido por Luísa é uma tarefa difícil e que exige boa vontade. Assim como todos nós, Luísa é parcial e não podemos tomar sua versão como absoluta. Como em “Dom Casmurro”, em que a versão de Bentinho não é suficiente para condenar Capitu, em “Cuidado com Pessoas como Eu”, saber a versão de Luísa não é o bastante para julgar nenhum dos demais personagens. A versão de Luísa diz respeito apenas a ela e, em seu íntimo, é a sua verdade.

A narrativa de Baszczyn é lírica, crua e difícil, tanto no livro quanto no blog. Gostando ou não, ao ler “Cuidado com pessoas como eu”, fica uma certeza: não é possível ficar indiferente diante de tanta poesia.



8 de julho de 2016

[Resenha] Todo dia (ou: uma reflexão sobre o amor)

Todo Dia Every Day David Levithan Editora Galera Record Resenha Avaliação Imagem
Título: Todo Dia (Every Day)
Autor: David Levithan
Ano: 2013
Editora: Galera Record
Gênero: Romance / Literatura Estrangeira
Classificação:  ⭐ ⭐ ⭐ ⭐ ⭐

O amor é uma grande coincidência. Encontrar com a alma certa, no momento certo, é uma raridade. Quando um encontro como esse acontece, é preciso agarrar a oportunidade com unhas e dentes. Mas e quando a alma que você encontrou troca de corpo todas as manhãs? 

A proposta desse livro lindo do David Levithan é essa: contar a história de A., uma alma sem corpo, e seu encontro com Rhiannon. A condição de A., de 16 anos, é extraordinária. A cada manhã, A. acorda em um novo corpo, uma nova vida, com novas lembranças e rotinas. Embora tenha consciência de que aquele corpo é de outra pessoa e consiga acessar todas as informações necessárias sobre a vida que vai viver aquele dia, A. sabe que na meia noite seguinte, será arrancado de onde está para acordar sabe-se lá onde, sabe-se lá porque. E tudo bem. A. está acostumado com isso. Está preparado. Não tem motivos para ficar.

Até acordar no corpo de Justin e conhecer Rhiannon. 

"Que história é essa sobre o instante em que você se apaixona? Como uma medida tão pequena pode conter algo tão grande? (...) O momento em que você se apaixona parece carregar séculos, gerações atrás de si - tudo isso se reorganizando para que essa intersecção precisa e incomum possa acontecer. Em seu coração, em seus ossos, por mais bobo que saiba que é, você sente que tudo levou a isso, que todas as flechas secretas estavam apontando para esse lugar, que o universo e o próprio tempo construíram isso muito tempo atrás, e agora você acaba de perceber que chegou ao local onde sempre deveria ter estado." - p. 25

O encontro dos dois é lindo, intenso, e a busca de A. para reencontrá-la todos os dias, independente do corpo em que esteja ou da vida que esteja levando, gera muitas metáforas importantes sobre os relacionamentos, abordando várias faces do desejo, da cultura, da renúncia e dos sacrifícios. Enquanto acompanhamos o desespero de A. para ficar ao lado de Rhiannon, vemos também a moça amadurecer e forçar A. a refletir sobre as necessidades reais do amor. 

Viver tantas vidas diferentes dá ao protagonista dessa história a chance de uma enorme reflexão sobre a cultura em sociedade e o fato de que, em essência, todas as vidas são parecidas. As pessoas querem viver, querem ser amadas, respeitadas, querem sentir que são necessárias. Somos, em resumo, 98% iguais, como A. cita em um trecho do livro, mas deixamos os 2% da diferença pesarem mais na balança. 

Nessa história linda e impecável, é impossível ficar indiferente. Essa é uma das histórias de amor mais bonitas que eu já conheci na ficção e estou bastante impressionada com o talento de Levithan, que transite com facilidade entre o lírico e o objetivo, e domina o texto de uma forma que o livro pode ter um trecho muito divertido e no capítulo seguinte um muito emocionante. Levithan pega as palavras e as transforma no que bem entende. Já estou caçando outros livros dele para saber se isso acontece em todas as histórias que ele conta ou somente nessa.

P.S.: Me emocionei escrevendo a resenha, só de reler os trechos preferidos que eu tinha marcado. Que livro, gente. Que livro.
 

1 de julho de 2016

[Resenha + Resultado da Promoção] Depois de Você - Jojo Moyes

Depois de Você - Jojo Moyes - Editora Intrínseca - Como eu era Antes de Você - Resenha - Avaliação - Classificação - Sorteio
Título: Depois de você (Original: After You)
Autor: Jojo Moyes
Ano: 2016
Editora: Intrínseca
Gênero: Romance / Literatura Estrangeira
Classificação: ⭐ ⭐ ⭐ ⭐ ⭐


Junho foi um mês especial para o blog! Pegando carona no lançamento do filme "Como eu era antes de você", baseado no best seller homônimo da Jojo Moyes, decidi sortear um exemplar de “Depois de Você”, continuação da história. Foi a primeira promoção do blog! O resultado sai hoje, no final dessa resenha! Ansioso? :D

Bom. Preciso admitir que a notícia de que haveria uma continuação para o “Como eu era” dividiu opiniões no meu círculo de amigos. Eu mesma simplesmente não via necessidade de uma parte dois nessa história que, para mim, fechou o ciclo e não precisava de mais nada. Ok, Jojo, já partiu o coração de todo mundo, podemos seguir em frente. Mas daí não deu, né? Saiu a tal continuação, eu li a sinopse e quando me dei conta já estava querendo ler. Ossos do ofício, eu acho.

Preciso dizer que comecei a ler de má vontade, implicando um pouco com essa cutucada na ferida. Mas mesmo assim não consegui resistir e foi muito gostoso reencontrar os personagens de uma história tão especial. Rever a Lou, encontrá-la tão humana e tão real, é como reencontrar uma amiga. Nós queremos saber o que ela tem feito da vida, como tem se virado, como as coisas se desenrolaram. Dando um spoiler de leve: tá tudo meio errado com a Lou.

Vivendo sua bagunça emocional e rotineira, acompanhamos o processo de virada da Lou, enquanto ela faz as pazes com a família e com seu passado e tenta redescobrir os caminhos para continuar seguindo o conselho final de Will: viver, intensamente.

Depois de Você Como eu era antes de você Editora Intrínseca Jojo Moyes Resenha


Embora tenha alguns pontos altos de destaque e seja uma história interessante, “Depois de você” não é o melhor livro da Jojo (para mim, o melhor ainda é o “Um mais um”). O enredo muitas vezes beira o clichê, o que é um pouco chato depois de uma história com um final difícil como foi o “Como eu era”. Depois de jogar na nossa cara que a vida não é justa e que amar e respeitar o outro às vezes envolve tomar decisões difíceis, Jojo traz Lou de volta num turbilhão de problemas que poderiam acontecer com qualquer um. A Lou não precisava ser a Lou para essa história funcionar.

Com a introdução de novos personagens, todos densos e com suas bagagem de histórias traumáticas, a história ganha outros reflexos. A introdução de Lily, Sam, Jake e todos os personagens secundários do Grupo Seguindo em Frente (POIS É) traz um pouco de emoção e uma dose de 'chacoalhões' para o livro. Mas o grande destaque é, sem dúvidas, a família da Lou.

A família Clark é tão real que é possível reconhecer seus integrantes nas nossas próprias vidas. Treena continua sendo a irmã mais velha daquela amiga, Tom continua sendo sobrinho de alguém, todos nós temos, na vida, figuras para relacionar e identificar na mãe, no pai e no avô de Lou. Até os vizinhos mexeriqueiros e o ex-namorado imbecil: extremamente possíveis. Tenho certeza que você vai conseguir identificar algum deles na sua vida quando ler.

O livro vale sim a leitura, mas “Como eu era antes de você” continua sendo melhor. É possível ler “Depois de você” mesmo sem conhecer a história original, de tanto que ela acaba fazendo referências ao passado. Um livro gostoso de ler, com reflexões interessantes sobre seguir em frente. :)

E agora o resultado!

A promoção aconteceu no Facebook e o sorteio foi feito pelo aplicativo Sorteie-me, e foi encerrado às 17h30 do dia 1º de Julho. E o resultado foi:

Resultado do Sorteio de Livros do Blog A Line Leu Depois de Você Jojo Moyes Como eu era antes de você


Parabéns, Maria! ♥

Entre em contato com o blog para passar o seu endereço e receber seu livro!
Obrigada a todos os que participaram!
Fiquem ligados e aguardem as próximas novidades do blog! ;)

22 de junho de 2016

[Resenha] O dariz (ou: um ode à ridite e às buitas gribes da vida)

Título: O dariz (Original: Le nez)
Autor: Olivier Douzou
Editora: Cosac Naify
Gênero: Infantil
Ano: 2009

Insdagram ;)

[corte para o passado] Bienal de Arte de São Paulo, 2010, Ibirapuera. Eu, em uma excursão, passeando pelo prédio e encontrando um stand vendendo livros. Eu encontrando uma edição lacrada d"O Dariz", me apaixonando pela ideia e sem poder folhear. Eu com R$5 no bolso e sabendo que o livro custava R$50. Eu indo embora no ônibus da excursão, arrasada, pronta para passar os aniversários e natais seguintes avisando a todos que eu queria ganhar esse livro. [volta para o presente].

Muitos anos depois daquela Bienal, continuava a vontade de ler essa história lindinha, que é um grande ode à vida dos que tem rinites e gripes com a frequência dos alérgicos. Uma conversa no Skype, com uma amiga que também é #teamrinite, trouxe a lembrança de volta. E a lembrança me levou pro Google, que me levou para a Amazon, que finalmente trouxe o livro até as minhas mãos.

A grande graça do livro é que ele é esgrito cobo ze focê estifesse com o dariz entubido. Ou seja, besbo esdando bem, focê é forçado a ler desse jeito. É buito dificil. E buito legal!

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Belhor livrinho
Essa edição tem capa dura e é toda ilustrada. Um livro infantil sim, mas que foge do clichê das cores gritantes, ilustrações animadas, pop-ups. Ideal para estimular nas crianças a leitura e o contato com os livros, mas ainda assim sendo uma experiência muito divertida e estimulante.

O enredo é bastante simples. Um belo dia, um Dariz acordou dodo endupido e entra em uma jornada para encontrar o grande lenço branco, se assoar e finalmente desentupir. No caminho, ele encontra outros darizes – um de palhaço, um de elefante, um de porco, um botão-que-pensa-que-é-nariz – para acompanhá-lo nessa aventura. 

Para facilitar sua experiência, vou fazer um tutorial rápido.

COMO APROVEITAR “O DARIZ”

- Encontre uma ou mais crianças ou pessoas com alma de criança (a gosto).
- Pegue o livro e separe meia hora ou mais do seu tempo.
- Leia em voz alta.
- Está pronta sua experiência, parabéns!

O dariz Olivier Douzou, Resenha, Foto, Trecho, Imagem, Página, Ranking, Avaliação, Livro
Dão bode zer!

O livro é a coisa mais gracinha da vida e eu ainda estou apaixonada por ele. Quero ler para todos os meus filhos imaginários. Cinco estrelas FÁCIL, disparado um dos melhores livros infantis da vida. Se você tem uma criança na família (ou um amigo com rinite e bom humor), essa é uma ideia de presente diferente e divertida. É uma história infantil que não transforma o livro em uma reprodução da TV, com uma única frase e 25 páginas com ilustrações gigantescas. Um livro com cara de livro (e de gripe). Muito bacana! :)


15 de junho de 2016

[Resenha] O canto do Dodô (ou: a Louca-da-Biologia)

O canto do Dodô David Quammen Resenha Biologia Ciências Extinções
Título: O canto do Dodô (Original: The song of the Dodo)
Autor: David Quammen
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Romance/Ciências Bilógicas
Ano: 2008

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Esse livro me ganhou na sinopse. Eu estava numa feira de livros (a mesma em que comprei "Diga aos lobos que estou em casa") e estava sendo muito cuidadosa para escolher, porque só poderia levar 2. Mas quando eu li a contracapa e entendi que esse seria um livro para entender o que estava acontecendo com o mundo e qual era a nossa parte nisso (enquanto humanidade), eu virei a louca-da-biologia, saí por aí carregando esse livro de 700 páginas na bolsa para todos os cantos e passei o mês inteiro falando sobre ele com todo mundo que eu pude.

Foi um mês divertido para todo mundo que estava perto, como vocês podem imaginar.

Escrito pelo jornalista David Quammen, esse livro levou vários anos para ser escrito e envolveu muita pesquisa, tanto bibliográfica quanto de campo. Quammen, no maior estilo Richard Rasmussen, visitou as ilhas mais longínquas do planeta para ilustrar o tamanho do problema em que estamos metidos: uma extinção em massa, grande como a do meteoro que inviabilizou a vida dos dinossauros. Só que dessa vez a natureza não tem muito a ver com isso. É, basicamente, culpa da nossa interferência no ambiente.

"Houve extinções antes e muitas extinções desde então, mas a extinção do dodô foi particularmente importante porque foi a primeira vez, a primeira vez em toda a história da humanidade, que o homem se deu conta de que ele havia provocado o desaparecimento de uma espécie."

Não vou desenvolver aqui todos os exemplos, tão sensacionais quanto o do Dodô, trazidos pelo Quammen nesse livro, porque todos eles são muito válidos e muito interessantes. Quammen personifica a luta pela preservação das espécies por meio de personagens muito interessantes, cientistas, pesquisadores, ambientalistas, moradores locais, populações inteiras, cidades, ilhas. Suas histórias enriquecem a narrativa e tornam o debate mais pessoal: o que as pessoas estão fazendo pelas espécies ameaçadas? E o que EU poderia estar fazendo?

Apesar da situação alarmante e do tom muitas vezes técnico, esse também é um livro com muitas tiradas engraçadas. Quammen é um narrador divertido, capaz de extrair uma risada até mesmo de situações mais tensas. Seu bom humor durante as situações mais inusitadas – um quase naufrágio, um assalto no Rio de Janeiro, visitar uma ilha habitada somente por formigas, conhecer uma pessoa que cria lagartos como se fossem gatinhos, etc – traz uma leveza que facilita a leitura e torna o assunto menos apavorante. "O mundo está acabando, sim, mas ouve esse causo, que bacana". Sei lá, me identifico.

"Segundo Darwin, as tartarugas de Santiago eram mais arredondadas e também mais pretas, além de terem 'melhor sabor quando cozidas' (Hoje em dia, os taxonomistas de tartarugas têm de abrir mão das evidências do paladar)"

Esse é um livro de grandes questões. Quanto tempo ainda temos antes de um colapso generalizado? Alguma dessas situações ainda é reversível? As espécies ameaçadas ainda tem chances de sobreviver? Quammen busca algumas dessas respostas, mas esse não é o objetivo central da narração. O que ele quer é instigar o debate. As ideias podem surgir de qualquer lugar, por mais improvável que pareça, por isso é extremamente importante que a gente continue divulgando as grandes perguntas.

Mesmo sendo um livro complicado de ler (tanto pelo peso teórico quanto pelo peso literal das 700 páginas), recomendo a todos que têm interesse em biologia, atualidade e meio ambiente. É um livro bem interessante, com dados científicos traduzidos para nós, que não somos cientistas. Vale a leitura e vale, principalmente, a reflexão. Até onde nosso estilo de vida vai nos levar?

O Canto do Dodô - Editora Companhia das Letras - David Quammen - Resenha - Avaliação - Ranking

Bônus - Essa reflexão saída diretamente das páginas desse livro:

O canto do dodô David Quammen Resenha Avaliação Trecho Citação História


10 de junho de 2016

[Resenha] O oceano no fim do caminho (ou: melancolia sobrenatural)

O Oceano no Fim do Caminho Capa Neil Gaiman Resenha - The Ocean at the end of the lane Review Cover
Título: O oceano no fim do caminho (The Ocean at the End of the Lane)
Autor: Neil Gaiman
Editora: Intrínseca
Gênero: Fantasia/Infanto Juvenil
Ano: 2013

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Eu não consigo pensar em Neil Gaiman sem me lembrar de Sandman. Foi o meu primeiro contato com o mundo das Graphic Novels e HQs adultas e eu me apaixonei pelas histórias sombrias e bizarras. Ainda fico encantada sempre que vejo algo relacionado e sigo carregando a vontade de ler toda a coleção do personagem (segura essa dica de presente hein?). Mas o fato é que, desde Sandman, cada vez que eu leio o nome do Gaiman no topo de uma capa, eu já tenho certeza de duas coisas: 1) eu quero ler; e 2) eu quero ler imediatamente.

Sandman Neil Gaiman Sonho Morpheus HQ Grafic Novel


Essas certezas ficam ainda maiores quando a capa em questão é tão linda e o nome do livro é tão legal. Quando eu vi minha colega lendo isso no trabalho, já saí perguntando sobre a sinopse e acabei e pedindo emprestado (sou dessas, desculpa).

O Oceano no Fim do Caminho - Capa- Neil Gaiman - Editora Intrínseca - Resenha - Avaliação
Olha que capa mais linda, cute-cute, vontade de apertar
Quis tanto conhecer essa história que li em um fim de semana, embora estivesse no meio da leitura de outro livro (“O canto do Dodô”, a próxima resenha aqui do blog). Li em duas respiradas. E valeu demais a pena!

O “Oceano no Fim do Caminho” do título é um lugar real, central no livro e na vida do protagonista (que não tem nome). Sem saber direito o motivo, nosso herói foge de um velório e dirige a esmo, até perceber que está indo em direção à casa onde morou na infância (atualmente demolida) e seguindo até o fim do caminho onde ela ficava – e onde ele vai se encontrar com um pedaço perdido de sua história.

Sentado diante do Oceano, que na verdade é um lago nos fundos da fazenda da família Hempstock (inclusive, MELHOR FAMÍLIA), ele vai relembrando pontos da sua infância que ele não sabia que lembrava. Na verdade, pontos que ele não sabia que tinha esquecido. Trechos nebulosos desse passado vão se interligando, puxando-o pela mão e nos levando junto para um passeio melancólico e sobrenatural.

O livro tem uma pegada bem tranquila de ler, com cara de conto, em que os acontecimentos não demoram e se entrelaçam de jeito leve. Ao mesmo tempo, o enredo e os personagens têm profundidade e são verossímeis. São explorados vários assuntos tensos ao longo da história. Gaiman trabalha nesse livro com os medos, o amadurecimento, a luta contra a escuridão que ronda o mundo. Mas mesmo assim, muitas vezes, a história segue uma linha que poderia facilmente ser explorada em filme infanto-juvenil. É bacana!

O ponto alto desse livro é com certeza o desenvolvimento dos personagens. A construção de todos eles é interessante, com destaque especial para as três integrantes da família Hempstock, Lettie , sua Mãe e sua Avó. Elas são misteriosas, sábias, corajosas, e suas histórias são indefinidas - é tudo parte do charme. Faz parte da graça não saber muito sobre elas além do fato de que elas são badasses caça-monstros. Tipo Sam e Dean Winchester, de Supernatural. Só que de saias e tranças.

Embora o final seja bastante melancólico, é um livro muito gostoso e muito rápido de ler. Ótimo para ler depois de um livro de estudo, depois de uma história muito cansativa, ou em um fim de semana de chuva, para aproveitar bem a vibe Gaiman. 4 estrelas, mas só porque uma ou outra ponta fica solta. De resto, só alegria!

O Oceano no Fim do Caminho - Neil Gaiman - Editora Intrínseca - Resenha - Avaliação - Ranking

29 de maio de 2016

[Resenha] Anexos (ou: poderíamos ser nós)

Anexos Rainbow Rowell Resenha Leitura Avaliação Livro
Tìtulo: Anexos (Original: Attachments)
Autor: Rainbow Rowell
Editora: Novo Século
Ano: 2014


Esse livro chegou com uma intimação: "Você precisa ler esse livro, somos nós duas nele". Quando alguém te diz isso, você não tem alternativa além de querer ler e começar imediatamente a procurar as semelhanças.

Mas antes de falar das semelhanças, bora apontar as diferenças que tornam esse livro um respiro no meio da mesmice que costumam ser os livros de romance contemporâneos. A sinopse já te dá uma pista: nosso protagonista é Lincoln, um programador de T.I. cujo trabalho é ler os e-mails dos funcionários do jornal para identificar se eles estão usando o e-mail de maneira imprópria. É no meio desse emprego bizarro que ele conhece nossas outras duas protagonistas, Jenny e Beth, uma revisora e uma jornalista. Mas ele não as conhece pessoalmente (nem nós, leitores). Tudo o que ele sabe sobre elas está contido nas conversas malucas, íntimas e intermináveis que elas desenvolvem em seus e-mails.

Para manter essa história de um jeito interessante, a autora alterna capítulos com estrutura comum, para narrar os pontos de vista de Lincoln, e capítulos inteiros sem narrador, apenas a transcrição dos e-mails trocados por nossas heroínas. E, lendo esses e-mails, a nossa reação é a mesma do menino-do-T.I.: nos encantamos por Beth e Jenny, queremos interagir com elas, ser amigas, trocar confidências. Lincoln vai além: de repente, descobre que está apaixonado por Beth.

Meio bizarro, eu sei. Mas no contexto fictício é uma gracinha, juro.

Durante a leitura, entendi bem rápido o comentário da minha amiga: podíamos mesmo ser nós duas, trocando e-mails durante o horário de trabalho e abrindo nossos corações para rir e para chorar. Eu vou além: Beth e Jenny poderiam ser qualquer um de nós que usamos a internet, que entendemos esse ambiente como uma extensão do nosso espaço, da nossa fala, como um ponto de encontro para ver os amigos e conversar.

A resolução da história força um pouco a barra, mas afinal de contas é um livro de romance, você precisa aceitar algumas coisas. Mas "Anexos" vale muito a pena a leitura, não pela história em si, mas por toda a forma com que ela se desenvolve, pela leveza e doçura com a qual Rainbow pega a nossa mão e nos conduz por toda a narrativa. Tenho certeza que você vai se identificar, se divertir e descobrir que o amor pode estar escondido em histórias extremamente improváveis.


Quatro estrelas para essa fofura :)

17 de maio de 2016

[Resenha] Quarto (ou: o estranho e lindo mundo de Jack)

Quarto de Jack Emma Donoghue Resenha Editora Verus
Título: Quarto (Room)
Autor: Emma Donoghue
Editora: Verus
Ano: 2011

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Esse livro chegou até mim emprestado, durante uma semana de licença médica em que tudo que eu precisava era companhia. Infelizmente não consegui ler nada durante a tal semana, mas li na semana seguinte e achei a leitura tão sensível e poderosa que acabei relendo alguns trechos.

Quando comecei a ler, já tinha visto o trailer do filme que adaptou a história para os cinemas, então Jack e sua Mãe já tinham rostos na minha imaginação. Isso foi útil, porque o livro não fornece muitas características físicas sobre os personagens (embora isso não faça tanta falta assim).

Narrado em primeira pessoa pelo Jack, o menino de 5 anos mais carismático de todos os tempos, o livro nos mantém diretamente ligados ao que o garoto sente, pensa e sabe. Enxergar a história inteira por meio dos olhos inocentes e curiosos de Jack é uma experiência nova e interessante, e a autora consegue manter durante toda a narração essa clareza: estamos ouvindo os pensamentos de uma criança de 5 anos.

"Escolhi a Colher Derretida, com o branco todo embolotado no cabo, de quando ela encostou sem querer na panela de macarrão fervendo. A Mãe não gosta da Colher Derretida, mas ela é a minha favorita, porque não é igual. Fiz carinho nos riscos da Mesa pra eles melhorarem, ela é um círculo todo branco, menos o cinza dos riscos, por causa de picar os alimentos." 
O Quarto é o mundo inteiro para Jack. As coisas que ele vê na Televisão, para ele, são coisas de outros planetas, inacessíveis, outros Quartos, de muitas outras dimensões. Jack é senhor desse mundo, profundo conhecedor de cada detalhe do Quarto, cada manchinha, cada detalhe, cada novidade mínima, cada trecho da rotina. Jack divide esse mundo com a Mãe e, eventualmente, com o Velho Nick, que aparece durante a noite, quando Jack já está dormindo no Armário, para fazer a Cama da Mãe ranger.

Quando sua Mãe conta para ele que o mundo é maior que o Quarto e apresenta ao menino um ousado plano de fuga, Jack sente seu universo se desfazer. Finalmente no Lá Fora, Jack vê tudo com olhos curiosos e tremendamente assustados. Tudo o que ele quer é voltar para o Quarto. Retornar ao único lugar que chamou de lar, e sobre o qual sua Mãe não quer nunca mais falar.

É estranho, essa é uma história pesada, que aborda situações traumáticas e extremas. Mesmo assim, um narrador tão inocente coloca as coisas em outra perspectiva. Essa mesma história poderia ter sido contada de mil maneiras diferentes e seria parecida com muitas outras. Seria chocante, dolorosa, provocaria todo tipo de reações. Mas, ao colocar Jack como narrador, ao colocar o leitor dentro da cabeça de uma criança tão original e inteligente, essa se torna uma história forte e poderosa sobre o amor que nos mantém de pé.

"Quarto" é um livro capaz de te prender até a última página. Em momento algum você quer deixar Jack sozinho no novo mundo em que ele precisa reaprender todas as coisas que achou que sabia. Jack e sua Mãe são personagens incríveis e inesquecíveis. Assim como o Quarto, um personagem ele próprio, povoando os sonhos de um e os pesadelos de outro.

Outro livro 5 estrelas, que mereceu o título de Melhor Livro do Ano pelo New York Times e pelo Independent.

Quarto O quarto de Jack Avaliação Resenha Ranking

Veja também o trailer de "O Quarto de Jack", indicado ao Oscar 2015 nas categorias Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Diretor e vencedor na categoria Melhor Atriz (Brie Larson):

10 de maio de 2016

[Resenha] Diga aos lobos que estou em casa (ou: o primeiro luto a gente não esquece)

Título: Diga aos lobos que estou em casa (Original: Tell the wolves I'm home)
Autor: Carol Rifka Brunt
Editora: Novo Conceito
Ano: 2014

Resenha no instagram :)

Eu não costumo fazer isso, mas esse livro eu escolhi pela capa. Eu estava em uma feira de livros, escolhendo alguns títulos dentro de um orçamento limitadíssimo, e essa capa (linda) me cativou. Não dei tanta atenção quanto deveria à sinopse, porque estava encantada demais com essa capa verde toda trabalhada, mas acabei dando muita sorte: “Diga aos lobos que estou em casa” é um livro sensacional.

Ambientado no final dos anos 80, o livro tem um tom familiar e íntimo. É fácil nos sentirmos próximos da realidade apresentada nele. Quem não foi um adolescente perdido, deslocado e aprendendo a lidar com as dores do primeiro amor e do primeiro luto? Essa é a situação de June, nossa protagonista que, aos 14 anos, tenta viver apesar do pesar e da imensa perda que acabou de sofrer.

(Pausa para um adendo pessoal: GENTE, mas quanto protagonista adolescente nesses livros hein? 14 anos, galera, eu tava pulando corda e essas crianças já estão aí salvando o mundo e evoluindo emocionalmente. Eu hein. Fim da pausa, fecha parênteses.)

June é uma menina tímida e acaba de perder o tio, irmão mais novo de sua mãe. Seu Tio Finn era a única pessoa em todo o mundo que a compreendia e amava, e a perda dele é devastadora. Finn era jovem, talentoso, sensível e June estava secretamente apaixonada por ele. Sua morte foi causada por um assunto que todos ao redor dela tentam evitar; June perdeu seu tio para a AIDS. 
(...) Fiquei sentada ali observando o chef japonês e perguntei-me o que aconteceria comigo sem Finn. Eu ficaria idiota pelo resto da vida? Quem me contaria a verdade, a história real que estava por baixo do que todas as outras pessoas conseguiam ver? Como você se torna alguém que sabe dessas coisas? Como você se torna alguém com visão de raio-x? Como você se torna Finn?

Enquanto tenta digerir e enfrentar uma vida sem seu Finn, June lida também com uma relação problemática com sua irmã mais velha, Greta, e com a ausência de pais muito ocupados trabalhando, embora sejam ambos preocupados e amorosos. No meio desse turbilhão, um homem entra em contato com ela. Ela já o viu uma vez, no velório de Finn. Embora todos a aconselhem a ficar longe desse homem, June está desesperada por qualquer detalhe, qualquer fiapo, qualquer breve vislumbre de lembrança do tio, e começa a se comunicar com Toby, o misterioso companheiro viúvo de Finn.


A relação que os dois desenvolvem é extremamente frágil e delicada, assim como o são June e Toby. Quando se encontram e a cada minuto que se conhecem melhor, June e Toby se olham como se olhassem para um espelho. O homem na casa dos 30 e a menina na casa dos 14 se reconhecem na imensidão de sua dor, de sua perda e de sua solidão. Ele a entende e vice-versa. Quando estão juntos, podem se lembrar de Finn com nostalgia, amor e plenitude, sem julgamentos. Podem caminhar juntos em direção a um futuro em que a perda dele seja lembrada, mas já não represente uma dor tão paralisante.

Finn não aparece no tempo atual do livro. Tudo o que sabemos sobre ele é indireto, vindo através do véu da saudade e do amor com que ele é lembrado. Ainda assim, Finn protagoniza essa história ao lado de June e de Toby, sempre presente em todas as cenas e decisões, sempre tocante e insubstituível. Finn é um artista, sensível e gentil, respeitado e famoso por seu talento. Mesmo as mágoas que ele deixou são perdoáveis e não é possível estar indiferente à sua presença-ausência. É fácil compreender a falta que June e Toby sentem dele porque é fácil imaginar a alegria que ele representava para os demais personagens.


Esse é um livro bonito. Profundamente triste e tocante, desenvolvendo assuntos como o amor, o amadurecimento e o luto, lado a lado com suas versões mais sombrias, o ódio, a imaturidade, a recusa ao encarar uma perda. “Diga aos lobos que estou em casa” é um livro para ler de coração aberto e chorar junto com June, junto com Toby, seguir com eles em suas jornadas e se encantar com suas trajetórias.


A escrita é lírica, leve e te convida a ler com calma, para absorver as camadas e entrelinhas. O livro fecha um ciclo perfeito da história, começa no melhor momento, termina do jeito justo. Não mudaria nada nele. N-a-d-a. Lindo!

E, inaugurando o novo modelo de avaliação aqui do blog, essa históra ganhou 5 estrelas:


29 de abril de 2016

[Resenha] Autoridade (ou: cada vez mais confuso)

Título: Autoridade (Original: Authority)
Autor: Jeef Vandermeer
Editora: Intrínseca
Ano: 2015

No Instagram também tem uma resenha sobre ele.

("Autoridade" é o livro 2 da Trilogia Comando Sul. O primeiro livro da série é o "Aniquilação", e tem resenha dele aqui no blog. Provavelmente vão rolar alguns spoilers, então talvez seja melhor você ler primeiro o livro 1 :P )

Eu acho que essa série é a coisa mais esquisita que eu já li. Cada nova informação que surge te dá mais dor de cabeça, mais perguntas e mais aflição. Nesse mundo que o Vandermeer criou, tudo é bizarro, tudo é assustador e todos estão à beira de um colapso ou de um surto psicótico. É esse o tom da leitura.

Depois de tudo que soubemos em “Aniquilação” pelos olhos da Bióloga/Ave Fantasma (sim, todo mundo tem uns codinomes bacaninhas por aqui), chegamos ao "Autoridade" confusos e morrendo de curiosidade. Quem mais morreu? Quem chegou do outro lado da passagem? Afinal de contas, que raios é a Área X?

Dessa vez, a história é contada sob o ponto de vista de Controle (um moço que até tem um nome mas o que importa? vamos sim usar outro codinome), que assume a diretoria do Comando Sul, responsável pelo estudo e 'combate' da Área X. Mas Controle chega à diretoria numa mera questão de "Q.I."(Quem Indica), porque ele não faz a menor ideia do que está acontecendo. O que é ótimo, porque o leitor também não sabe de nada. Enquanto acompanhamos a busca desesperada dele por respostas, vamos entrando juntos no clima dele e nos chocando com cada nova descoberta.

A verdade é que "Autoridade" deixa tudo mais confuso, mais tenso e mais bizarro. É tudo beirando o surreal e você passa a leitura inteira prendendo a respiração e olhando para os lados porque acha que ouviu alguma coisa estranha. É um livro incrível de tão absurdo. Uma das sensações aflitivas é tão descrita e tão valorizada que você quase sente o que está acontecendo. Creepy.

O final é explosivo e você fica ainda mais na pilha de terminar a leitura. Eu estou louca para ler “Aceitação” e não tenho nenhuma pista do que vai acontecer. “Autoridade” termina em um caos tão concentrado que realmente não dá para prever ou supor nada. Só nos resta esperar para ler e descobrir o que o Vandermeer preparou para nós.

E você? Qual foi o livro mais esquisito que você já leu?

25 de abril de 2016

[Resenhas] Joyland (ou: um livro levinho do King)

Título: Joyland (Original: Joyland)
Autor: Stephen King
Editora: Soma de Letras
Ano: 2013

Resenha no Instagram :D

Eu fui visitar uma amiga (uma das minhas principais "intercambistas" de leituras) e, na hora de ir embora, ela me estendeu esse livro e perguntou se seu queria lê-lo. É um livro do Stephen King. É claro que eu queria ler. E foi assim que Joyland, um livro do King que não tem muita cara de livro do King, chegou até mim.

Joyland é o nome de um parque de diversões, desses americanos que são meio parque, meio circo. A trupe de funcionários vive e respira a atmosfera da indústria da diversão itinerante e muitos deles têm o que, no livro, é chamada de "alma de parque".

Nosso protagonista Devin Jones é, ao mesmo tempo, idoso e rapaz. No presente, um idoso acessando suas memórias, remoendo velhas dores e velhas paixões. No desenrolar da história, um jovem cru lidando com o primeiro coração partido e as primeiras-vezes da vida. Um jovem prestes a entrar no mundo dos parques de diversão só para fazer um estágio de verão, sem pretensões ou ambições.

Enquanto luta para esquecer o pé na bunda inevitável que acaba de levar, Devin se descobre cada vez mais envolvido com o parque de diversões, com sua rotina e língua únicos, seus personagens e segredos. Enquanto espera ansioso (sabe-se lá por quê) para ver o famoso fantasma de uma moça assassinada no túnel do horror, o rapaz canta e dança para as crianças vestido como o Howie, o Cão Feliz, símbolo do parque (na minha cabeça, ele virou o Tchutchucão).

No caminho de ida e volta entre sua casa e o parque, Devin conhece o menino Mike e sua mãe Annie, em sua própria luta para viver inteiramente cada um dos dias. Mike tem uma doença incurável e sua morte é iminente, embora sua mãe o proteja com uma fúria de quem quer reverter o irreversível. Mike é uma criança doce, corajosa e especial: seus poderes paranormais o tornam peculiar,

De um modo geral, nos livros de Stephen King os trechos paranormais são quase coadjuvantes. Embora sejam livros de terror, as coisas inexplicáveis, monstros e poderes fora de controle, servem apenas de condutores para a trama, que quase sempre se desenrola e te aterroriza na natureza humana (e por meio dela). Não é diferente nesse livro, mas nessa história, a moça fantasma presa no parque e os poderes paranormais da criança são meros detalhes. Nada disso importa muito.

Essa é uma história doce, despretensiosa e muito triste. Nesse livro, King abre mão do horror e até mesmo das reflexões sobre os extremos da natureza humana. Ainda assim, é possível perceber a delicadeza com que cada personagem, mesmo os menores, foi construído. É possível encontrar profundidade e verdade em cada um deles.

Esse é um livro sobre perder. E aprender a lidar com isso.

[BÔNUS]

O ótimo músico Andy Mckee compôs um música inspirada no livro :) Clique para ouvir: