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18 de fevereiro de 2018

[Resenha] Maurício - A história que não está no gibi (ou: In[fã]cia)

Maurício de Sousa - A história que não está no gibi

Ficha técnica:

Título: Maurício - A história que não está no gibi
Autor: Maurício de Sousa (em depoimento a Luís Colombini)
Ano: 2017
Editora: Primeira Pessoa
Avaliação: ⭐ ⭐ ⭐ ⭐ ⭐

Olha. Eu não sei nem por onde começar.

Vamos do princípio: eu não me lembro de nenhuma fase da minha vida em que a Turma da Mônica não estivesse presente. E quando eu digo nenhuma, quero dizer nenhuma mesmo - tinha bonecas de pano da Mônica penduradas na porta do quarto quando eu era bebê. Quando fiz meu primeiro e-mail, aos 8 anos, foi para brincar no site da

Parque da Mônica - Magali - Anos 90
eu sendo feliz com meu alterego, no Parque da Mônica.
Mônica. Aprendi a ler e a desenhar cercada pelas revistinhas. Comemorei aniversários no Parque da Mônica. Ilustrei trabalhos de escola com recortes de quadrinhos. Comprei uma caneca da Magali com meu primeiro salário do estágio. Usei caderno de melancia na faculdade. Visitei exposição da Mônica com a minha melhor amiga. Peguei fila na Comic Con para ganhar coroa de "Donas da Rua". Já assisti a turminha em VHS, em DVD, na TV e no Youtube. Em todas os momentos, de um jeito ou de outro, a Turma da Mônica esteve comigo. E eu nunca dispensei nenhuma possibilidade de contato com ela.

Por isso, é óbvio para todo mundo que eu sou fã do Maurício de Sousa - tanto pessoal quanto profissionalmente. Ele me encantou quando eu era só uma menina aprendendo a ler e continua me encantando agora, que eu trabalho com comunicação e não posso fazer nada além de respeitar sua capacidade impressionante de se comunicar com crianças (e crianças de alma). Ganhei esse livro no Natal, de uma amiga de mais de uma década. Eu imediatamente abracei o livro. Quando terminei de ler, senti que o livro me abraçou de volta.

Ao longo desses anos de fã, muito da biografia do Maurício não era novidade para mim. Eu sabia quais de seus filhos tinham virado personagens, sabia que ele tinha crescido em Mogi, sabia do trabalho como repórter policial. Mas ler a história sob a perspectiva dele, sem a edição de uma entrevista ou uma reportagem, com todos os perrengues e as falhas que o tornam tão humano quanto qualquer outro, foi uma experiência maravilhosa. Volta ali para o topo da página, olha essa capa. Cada vez que eu precisava fechar o livro, ficava mais forte a sensação de que eu estava sentada no chão, diante de alguém da minha família (como um tio ou um avô), enquanto ouvia ele rir e me contar das aventuras. 

Maurício de Sousa - A história que não está no gibi
making of do meu aniversário de 8 anos
 Ler esse livro renovou também a minha vontade de acreditar em mim mesma, no meu trabalho e nos meus objetivos. Mauricio faz aqui um relato honesto, delicado e intenso ao mesmo tempo, sobre toda a sua trajetória. Nunca tinha me ocorrido o quanto foi difícil tornar a turminha o império que é hoje. Não tinha me passado pela cabeça o quanto de criatividade, empreendedorismo, logística, empenho, força de vontade e capacidade de recomeçar foram necessários para que Maurício chegasse onde está agora. É inspirador e impressionante.

A edição é muito bonita, com fotos ilustrando algumas das passagens do texto, e uma capa que aguentou várias e várias viagens no metrô sem amassar (inclusive, em cada viagem, pelo menos uma criança cutucava a mãe e apontava para o meu livro, sussurrando: "olha, é a Mônica!". Se isso não é sucesso, não sei o que o pode ser). 

Maurício NASCEU para contar histórias e nesse livro o texto é fluido, capaz de te segurar por horas e horas sem perder o interesse.  O último capítulo, principalmente, me emocionou muito. Sua reflexão sobre sonhos, ideias, fracassos e legado é linda e ela, sozinha, já vale o livro todo. Fãs ou não da Turma da Mônica, essa é uma leitura imperdível sobre um sonhador incansável, uma máquina de ter ideias, um homem sem medo de falhar ou de tentar de novo. Um livro para rir, chorar e se sentir abraçado.  

Com esse livro, Maurício de Sousa ganhou meu coração (mais uma vez).



29 de janeiro de 2018

[RESENHA] Cadê o Peo? Será que se perdeu? [e + 3 projetos para apoiar online]

Ficha técnica:

Título: Cadê o Peo? Será que se perdeu?
Autor: Piero Lucchesi
Ano: 2017
Editora: Independente
Avaliação: ⭐ ⭐ ⭐ ⭐  

Livro bom é livro assim, com duas histórias, e a resenha de hoje é legal por isso. Além de falar sobre o livro, ela serve de gancho para uma conversa bacana sobre uma das coisas mais legais que a internet proporciona: o financiamento coletivo.

Quando conheci o projeto desse livro, eu trabalhava com o autor dele, o Piero. Acho que trabalhamos juntos por uma única semana, mas foi tempo suficiente para conhecer a história do Peo e lembrar que, a todo momento, alguém está com uma ideia na cabeça precisando de um incentivo.

O projeto no Catarse serviu para bancar a segunda impressão do livro, que já tinha sido lançado na 3ª Bienal do Livro de Volta Redonda, ainda em 2017. Foi assim que, com o apoio de um monte de gente, esse livro chegou a mim - e ao blog.

Baseado em fatos reais, essa história acompanha a aventura de Peo, um menino de 3 anos que queria ir para a escola. Todo ilustrado em aquarela e com um texto poético estruturado em rimas, o livro é leve, divertido e ótima pedida para ler com/para crianças.

Essa não foi a minha primeira experiência com livros em crowdfunding. Uma das outras experiências foi o delicado "do seu pai,", que já teve postagem aqui. Pensando nisso - em todas as coisas boas que vêm com o sentimento duplo de apoiar um projeto que você acredita e de quebra ainda ter um livro com uma história que passa a ser sua também -, separei outros três projetos legais que estão rolando no Catarse e no Benfeitoria, para você apoiar também. Garanta seu calorzinho no peito:

Filó de uma história só - No reino das verdades esquecidas


A autora e intérprete da Filó, Jeane Avellar, é uma contadora de histórias em Petrópolis (RJ). O livro com algumas das histórias de personagem (cheias de unicórnios, fadas e seres fantásticos) vai finalmente sair do papel! Apoiando o projeto, você garante o seu exemplar na pré-venda e ainda ajuda a valorizar os artistas e autores nacionais, em suas missões de mudar o mundo através da cultura. Saiba mais sobre esse projeto e apoie até 6/2 (CORRE)!

HQ - Agouro



Curte Vikings e graphic novels? Então "Agouro" é para você. Nessa HQ sem falas, você acompanha a saga de um grupo viking em alto mar, diante de um grande perigo. O autor é o Diego Esteves, que mantém o site O Incrível Tédio Cotidiano. Corre para apoiar até 22/2 e garanta uma recompensa legal junto com a sua revista!

Projeto Bemblioteca



Desde 2014, a Bem Mudar, em Belo Horizonte (MG) promove a melhoria da educação, desenvolvendo um padrão de excelência para as escolas públicas do Brasil. Para isso, o mais novo projeto da ong é o lindinho "Bemblioteca" (amo/sou nomes-trocadilhos), que vai revitalizar os ambientes e acervos de bibliotecas de escolas públicas, além de premiar os alunos com melhor desempenhos em concursos de redação. Vê se não é de apoiar agora, sem nem pensar mais? Saiba tudo sobre o projeto e ajude a transformar em realidade até 18/3! :)

23 de janeiro de 2018

[Lista] 3 rolês literários para fazer em São Paulo (ou: feliz 464 anos!)


Em um dia 25 de janeiro, em 1554, o padre jesuíta José de Anchieta fundou São Paulo, essa cidade linda e caótica que eu chamo de lar. Paulistaninha que sou, de comer bolacha e marcar encontro na catraca do metrô, separei 3 rolês literários para curtir na cidade. Que tal aproveitar o feriado (ou a emenda) para um passeio delícia? Dê uma olhada na lista e escolha o seu preferido, bêu!

1. Comprar um livro em um dos sebos da cidade

Sebo do Messias
Foto: Flickr/Gustavo Leutwiler Fernandez

Um livro é sempre um tesouro, mas encontrar um livro bacana depois de garimpar em um sebo é ainda mais legal (principalmente se você pagar baratinho!). Um livro de sebo é um livro com duas histórias: a do livro e a de todas as mãos pelas quais ele já passou. Dê uma olhada nessa lista de sebos da Estante Virtual e escolha um para visitar. Que tal começar pelo Sebo do Messias, que fica pertinho da Praça da Sé e do Páteo do Colégio? Dê uma volta no centro histórico e aproveite para voltar pra casa com um livro novo (só que velho)!

(Mas caso você seja alérgico, tasca um anti-histamínico na bolsa para dão vicar valando azim.)

2. Participar de uma roda de contação de histórias

contação de histórias na biblioteca de são paulo
Foto: Biblioteca de São Paulo

Ouvir alguém contar uma história é tipo ler, só que com outra pessoa intermediando. E isso ás vezes é uma coisa muito legal: cada um dá seu próprio toque para a história, o que quer dizer que mesmo que você já tenha escutado ou lido antes, é sempre uma coisa nova. Junte os pequenos (ou os grandes) e participe de uma roda de histórias! O Museu AfroBrasil, no Parque do Ibirapuera, promove no dia 27/1 uma roda de histórias africanas e afrobrasileiras, mas também dá para participar da Hora do Conto, na Biblioteca de São Paulo, ou assistir a leitura de "O Homem-Cão", em um dos shoppings da cidade, com programação da Companhia das Letras até dia 3/2.

E se você animar, pode até se inscrever em um curso de contação de histórias!

3. Passear (e fazer sua carteirinha) em uma das bibliotecas da cidade

Biblioteca Mário de Andrade São Paulo
Foto: Flickr/Cris Castello Branco/Governo do Estado de SP


Segundo o site da prefeitura de São Paulo, temos 106 bibliotecas espalhadas por todas as regiões da cidade. Que tal aproveitar a folga e descobrir qual é a mais próxima de você? Faça a sua carteirinha e comece as visitas! Nos sistemas online, também dá para consultar o acervo e até renovar o empréstimo de algum livro que você ainda esteja terminando de ler. Algumas dessas bibliotecas são espaços lindos e multiculturais que valem a visita e contam como passeios. Que tal dar uma volta pelo Parque da Juventude e aproveitar para explorar o acervo da Biblioteca de São Paulo? Outra boa pedida é a Biblioteca Mário de Andrade, na Rua da Consolação - conheça o espaço e aproveite para passear na Av. Paulista!

Também dá para checar a programação cultural das bibliotecas nesse link! ;)

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E aí, gostou? Aproveite o aniversário da cidade para explorar as livrarias, bibliotecas e museus de São Paulo! Curta muuuuito e, se visitar alguma das sugestões, me marca no Instagram: @blog.alineleu! Vou adorar te acompanhar nessa. ;)

10 de janeiro de 2018

[RESENHA] Tá todo mundo mal (ou: bendita seja a crise)


Capa do livro - Tá todo mundo mal - O livro das crises, Jout Jout, Júlia Tolezano, ResenhasFicha técnica:

Título: Tá todo mundo mal - O livro das crises
Autor: Jout Jout
Ano: 2016
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 200
Avaliação: ⭐ ⭐ ⭐ ⭐ ⭐


Eu tenho um grupo de amigas que venho cultivando desde, aproximadamente, 2005. Nós temos muito em comum e, ao mesmo tempo, somos incrivelmente diferentes. O que é ótimo e, para ser bem sincera, é provavelmente um dos motivos de essa parceria funcionar: somos complementares. Esse contexto todo para chegar ao livro alvo dessa resenha, "Tá todo mundo mal", tem dois motivos. O primeiro é que ganhei esse livro de uma dessas amigas, na última edição do nosso amigo-secreto anual. O segundo é que, por mais diferentes que sejamos umas das outras, as crises (várias parecidas com as da Jout Jout) sempre nos uniram.

Gosto muito dos vídeos da Júlia então já fazia muito tempo que eu queria ler esse livro. Vários motivos foram adiando a leitura e, por fim, quando consegui ler, já tinha passado mais de um ano do lançamento. Lendo, me identifiquei com várias coisas, não me identifiquei com várias outras. Exatamente como acontece quando falo com as minhas amigas.

Ler esse livro dá mesmo essa sensação gostosa, esse calorzinho no peito de ter uma conversa boa com uma amiga de muito tempo. Essa certeza de que não é preciso conquistar, impressionar, disfarçar, se justificar. São só pessoas familiares ao redor, que já te viram no seu melhor e no seu pior, e continuaram ali por perto. Mesmo quando a vida nos afasta um pouco, basta um pouco de boa vontade mútua e voi-lá! Eis um laço forte e pronto para a próxima crise.

É assim que Jout Jout estrutura esse livro, pulando de crise em crise, da infância à adultecência. Com um texto leve e brincalhão (assim como nos vídeos), Júlia pega a gente pela mão e vai te apontando as paredes cheias de memória, dizendo, empolgadíssima: "OLHA, AQUILO ALI FOI DA VEZ QUE QUASE MORRI", como quem mostra um álbum de fotos. Como quem já te conhece há anos. E você vai, acompanhando feliz da vida, com aquele sorriso bobo de quem já ouviu a mesma história mil vezes mas com certeza vai ouvir de novo e hoje tá com paciência para ouvir outra vez, com detalhes.

Nesse livro, Jout coloca em prática seu grande dom: provocar empatia. Colocando pra fora suas crises, mágoas, medos e lições, Júlia nos trata como amigos íntimos e, dando aquele abracinho nos ombros, reforça que tá todo mundo mal, e tudo bem. Exatamente como os amigos fazem.