UA-78357878-1 A Line leu: abril 2016

29 de abril de 2016

[Resenha] Autoridade (ou: cada vez mais confuso)

Título: Autoridade (Original: Authority)
Autor: Jeef Vandermeer
Editora: Intrínseca
Ano: 2015

No Instagram também tem uma resenha sobre ele.

("Autoridade" é o livro 2 da Trilogia Comando Sul. O primeiro livro da série é o "Aniquilação", e tem resenha dele aqui no blog. Provavelmente vão rolar alguns spoilers, então talvez seja melhor você ler primeiro o livro 1 :P )

Eu acho que essa série é a coisa mais esquisita que eu já li. Cada nova informação que surge te dá mais dor de cabeça, mais perguntas e mais aflição. Nesse mundo que o Vandermeer criou, tudo é bizarro, tudo é assustador e todos estão à beira de um colapso ou de um surto psicótico. É esse o tom da leitura.

Depois de tudo que soubemos em “Aniquilação” pelos olhos da Bióloga/Ave Fantasma (sim, todo mundo tem uns codinomes bacaninhas por aqui), chegamos ao "Autoridade" confusos e morrendo de curiosidade. Quem mais morreu? Quem chegou do outro lado da passagem? Afinal de contas, que raios é a Área X?

Dessa vez, a história é contada sob o ponto de vista de Controle (um moço que até tem um nome mas o que importa? vamos sim usar outro codinome), que assume a diretoria do Comando Sul, responsável pelo estudo e 'combate' da Área X. Mas Controle chega à diretoria numa mera questão de "Q.I."(Quem Indica), porque ele não faz a menor ideia do que está acontecendo. O que é ótimo, porque o leitor também não sabe de nada. Enquanto acompanhamos a busca desesperada dele por respostas, vamos entrando juntos no clima dele e nos chocando com cada nova descoberta.

A verdade é que "Autoridade" deixa tudo mais confuso, mais tenso e mais bizarro. É tudo beirando o surreal e você passa a leitura inteira prendendo a respiração e olhando para os lados porque acha que ouviu alguma coisa estranha. É um livro incrível de tão absurdo. Uma das sensações aflitivas é tão descrita e tão valorizada que você quase sente o que está acontecendo. Creepy.

O final é explosivo e você fica ainda mais na pilha de terminar a leitura. Eu estou louca para ler “Aceitação” e não tenho nenhuma pista do que vai acontecer. “Autoridade” termina em um caos tão concentrado que realmente não dá para prever ou supor nada. Só nos resta esperar para ler e descobrir o que o Vandermeer preparou para nós.

E você? Qual foi o livro mais esquisito que você já leu?

25 de abril de 2016

[Resenhas] Joyland (ou: um livro levinho do King)

Título: Joyland (Original: Joyland)
Autor: Stephen King
Editora: Soma de Letras
Ano: 2013

Resenha no Instagram :D

Eu fui visitar uma amiga (uma das minhas principais "intercambistas" de leituras) e, na hora de ir embora, ela me estendeu esse livro e perguntou se seu queria lê-lo. É um livro do Stephen King. É claro que eu queria ler. E foi assim que Joyland, um livro do King que não tem muita cara de livro do King, chegou até mim.

Joyland é o nome de um parque de diversões, desses americanos que são meio parque, meio circo. A trupe de funcionários vive e respira a atmosfera da indústria da diversão itinerante e muitos deles têm o que, no livro, é chamada de "alma de parque".

Nosso protagonista Devin Jones é, ao mesmo tempo, idoso e rapaz. No presente, um idoso acessando suas memórias, remoendo velhas dores e velhas paixões. No desenrolar da história, um jovem cru lidando com o primeiro coração partido e as primeiras-vezes da vida. Um jovem prestes a entrar no mundo dos parques de diversão só para fazer um estágio de verão, sem pretensões ou ambições.

Enquanto luta para esquecer o pé na bunda inevitável que acaba de levar, Devin se descobre cada vez mais envolvido com o parque de diversões, com sua rotina e língua únicos, seus personagens e segredos. Enquanto espera ansioso (sabe-se lá por quê) para ver o famoso fantasma de uma moça assassinada no túnel do horror, o rapaz canta e dança para as crianças vestido como o Howie, o Cão Feliz, símbolo do parque (na minha cabeça, ele virou o Tchutchucão).

No caminho de ida e volta entre sua casa e o parque, Devin conhece o menino Mike e sua mãe Annie, em sua própria luta para viver inteiramente cada um dos dias. Mike tem uma doença incurável e sua morte é iminente, embora sua mãe o proteja com uma fúria de quem quer reverter o irreversível. Mike é uma criança doce, corajosa e especial: seus poderes paranormais o tornam peculiar,

De um modo geral, nos livros de Stephen King os trechos paranormais são quase coadjuvantes. Embora sejam livros de terror, as coisas inexplicáveis, monstros e poderes fora de controle, servem apenas de condutores para a trama, que quase sempre se desenrola e te aterroriza na natureza humana (e por meio dela). Não é diferente nesse livro, mas nessa história, a moça fantasma presa no parque e os poderes paranormais da criança são meros detalhes. Nada disso importa muito.

Essa é uma história doce, despretensiosa e muito triste. Nesse livro, King abre mão do horror e até mesmo das reflexões sobre os extremos da natureza humana. Ainda assim, é possível perceber a delicadeza com que cada personagem, mesmo os menores, foi construído. É possível encontrar profundidade e verdade em cada um deles.

Esse é um livro sobre perder. E aprender a lidar com isso.

[BÔNUS]

O ótimo músico Andy Mckee compôs um música inspirada no livro :) Clique para ouvir:


15 de abril de 2016

[Resenha] O orfanato da srta. Peregrine para crianças peculiares (ou: quase x-men, mas gótico)

Resenha Avaliação Comentário O orfanato da Srta. peregrine para crianças peculiáres (Original: Miss Peregrine's Home for peculiar children)

Título: O orfanato da Srta. peregrine para crianças peculiáres (Original: Miss Peregrine's Home for peculiar children)
Autor: Ransom Riggs
Editora: Leya
Ano: 2012

Instagram ;)


Era uma vez uma casa enorme. Nessa casa, viviam muitas crianças e adolescentes que não eram comuns. Os moradores dessa casa são considerados esquisitos pelos vizinhos e a verdade é que são mesmo: cada um deles tem uma habilidade que os torna únicos - levitar, lançar chamas pelas mãos, prever o futuro, fazer as plantas crescerem... Para viver uma vida normal, eles seguem seus dias disfarçados do resto do mundo, aprendendo a controlar seus poderes e a viver sempre apoiando os seus iguais, sob a tutela preocupada de alguém adulto que também tem habilidades únicas.

Poderia ser X-Men, mas é o orfanato da Srta. Peregrine para crianças peculiares.

O protagonista da história, o adolescente Jacob, de 16 anos, acaba de perder um avô de quem era muito próximo. Esse avô já estava sendo considerado senil pela família (e pelo próprio Jacob), assombrado por monstros invisíveis e repetindo sobre histórias do passado, em que ele dividiu a infância com crianças que voavam, eram super fortes ou invisíveis. O ponto de virada é justamente a morte trágica: nos derradeiros minutos, Jacob é capaz de ver o monstro que ele sempre acreditou ser fantasia. E é confrontado com a dúvida: e se todas as outras histórias que ele ouviu do avô na infância forem verdade?

O livro é todo ilustrado com fotos reais, ao estilo bizarro dos circos de horror antigos, que serviram de base para o desenvolvimento de muitos dos personagens centrais do livro. Enquanto acompanhamos a busca de Jacob pelo passado do avô, tentando entender o que é ou não real, nos pegamos descobrindo uma passagem mágica para um tempo diferente. O orfanato da srta. Peregrine está no passado, preso atrás de uma fenda que mantém todos os internos protegidos.

Enquanto se dá conta da imensa bagunça em que está metido, Jacob também é seduzido pelo mundo de esquisitices que encontrou do outro lado da passagem. Acolhido por todos e com poucos laços afetivos o prendendo no mundo presente, Jacob se descobre muito mais parte do mundo dos x-men góticos do que do seu próprio.

O garoto também se descobre peça central de uma luta contra uma ameaça assustadora que ele nunca imaginou existir.

O final do livro fecha um ciclo de aventuras e inicia outro, exatamente da forma como aventuras desse gênero costumam (e devem) terminar. Já quero ler a continuação e continuar acompanhando esses estranhos pequenos heróis em sua busca por sobrevivência, proteção e justiça.

A adaptação cinematográfica, sob a direção do adequadíssimo Tim Burton, já chegou aos cinemas. Pelo trailer já dá para ver que algumas coisas foram modificadas e adaptadas, Mas, no contexto geral da história, talvez isso não importe tanto.


Qual sua aposta? Um livro bem adaptado para as telas ou mais uma vez o livro vai ser melhor do que o filme?

12 de abril de 2016

[Resenha] As esganadas (ou: motivos para temer pasteizinhos de nata)

Título: As esganadas
Autor: Jô Soares
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2011

Instagram :P


Minha mãe chegou em casa com esse livro e me perguntou o que eu já tinha lido do Jô Soares. E fora alguns textos e frases soltos (de autoria questionável), eu não tinha lido nada. Foi uma ótima oportunidade de resolver isso.

Eu já tinha assistido a adaptação cinematográfica de um livro do Jô - O Xangô de Baker Street - e lembro de ter achado um pouco estranho. Essa coisa de misturar serial killers, história do Brasil, detetive lusitano e humor talvez seja característica dele, já que a estrutura se repete claramente em "As esganadas".

Sem paciência para grandes mistérios, nosso assassino e sua motivação já são revelados logo no início da história, assim como acompanhamos seus planos e triunfos ao longo da narrativa. As vítimas da vez são mulheres gordas, moradoras de um Rio de Janeiro dos anos 30 perfeitamente contextualizado pelo autor, seduzidas pela possibilidade de doces portugueses de graça.

Os personagens, de modo geral, são carismáticos e divertidos, pessoas que é fácil imaginar em um filme ou novela (mas não na vida real). Desde o caricato Tobias Esteves, nosso detetive lusitano, até os funcionários da delegacia, a jornalista charmosa e sagaz e a esposa-troféu, todos os personagens são exatamente isso: personagens, tipos bem estruturados e impossíveis, repletos de clichês e piadas.

É um livro sem grandes desafios, um entretenimento rápido e seguro, com personagens fáceis de reconhecer na nossa ficção.

Vale a leitura, mas não espere um livro de horror ou de mistério. Jô Soares é um comediante e nesse livro brinca com a morte e a crueldade como faria em uma esquete de TV.

8 de abril de 2016

[Resenha] O Pacto (ou: distopias adolescentes everywhere)

Título: O pacto (The declaration)
Autor: Gemma Malley
Editora: Rocco Jovens Leitores
Ano: 2009

Instagram.


Eu acho que esse foi o primeiro livro em meses que eu li e achei médio. Não chega a ser ruim, mas tem um ritmo lento e um enredo que por mais promissor que pareça, não se desenvolve muito bem. Pega carona na onda de distopias adolescentes e bebe na fonte de histórias como "Jogos Vorazes" e "Feios", mas com menos profundidade.

O tal pacto, do título do livro, chegou depois de a humanidade desenvolver um tipo de droga que permite a imortalidade. Com isso, o mundo ficou cada vez mais populoso, já que as pessoas pararam de morrer. Em nome de economizar recursos, o pacto surgiu: ninguém mais poderia ser filhos, a menos que renunciasse à imortalidade.

Radical, a decisão gerou controvérsias e, aos poucos, a juventude real foi praticamente extinta. Filhos "ilegais", nascidos de pessoas que desrespeitaram o pacto, são tirados de seus pais e levados para grandes lares comunitários onde, sob torturas, ameaças e humilhações, aprendem que não tem direito ao mundo e, pelo contrário, estão em débito com ele. Por isso, os chamados "excedentes" são crianças sem sobrenome e sem autoestima, treinadas desde bebês para servirem aos Legais.

Protagonista da história, a Excedente Anna é exemplar.  Disciplinada, silenciosa e com uma autoestima invertida e impecável. Anna tem certeza de que não tem nenhum direito e mais certeza ainda de que precisa servir com dedicação total e resiliência absoluta. Uma perdida marionete do sistema, até a chegada de Peter, um rapaz misteriosos e rebelde com informações sobre o mundo lá fora.

Ou seja, até agora nada de novo sob o Sol. Uma mocinha que não tem a menor intenção de se rebelar, perfeitamente adaptada a um sistema que a oprime, e a-pessoa-que-desencadeia-a-mudança. Anna ao poucos (claro) se apaixona por Peter e os dois articulam uma fuga (claro) para se juntar a uma aliança rebelde que está disposta a reverter as coisas (claro).

Enfim.

As reflexões sobre as consequências que a imortalidade teria no nosso planeta são louváveis e até tornam a leitura um exercício interessante de filosofia. Mas é difícil destacar mais do que isso nesse livro.

O livro termina ainda com muitas pontas soltas e de maneira quase que previsível. A história é uma trilogia mas, a julgar pelo volume 1, não fiquei empolgada para continuar.

Você já leu? Tem uma opinião diferente da minha? Deixe aí nos comentários.

6 de abril de 2016

[Resenha] ItGirls (ou: um blog, mas impresso)



Título: ItGirls – Todos os segredos de uma verdadeira it girl
Autor: Alessandra Garattoni
Editora: Arte Ensaio
Ano: 2012

Resenha no instagram :)

A origem desse livro é um dos primeiros blogs de moda brasileiros, o homônimo “It Girl”, da autora Ale Garattoni, hoje à frente d'O Diário de uma mãe empreendedora. Com carinha de manual, o livro parece exatamente o que é: um blog adaptado e impresso, com imagens de referência, textos leves e uma coletânea de dicas espalhadas em categorias diversas.

Embora eu leia basicamente qualquer coisa, admito que tenho um certo preconceito com livros que se propõe a ser “guias” de comportamento e de estilo. Para mim isso é muito subjetivo e tudo que se coloca em listas de “Pode” e “Não pode” acaba perdendo um pouco do foco. Mas em “ItGirls”, Garattoni não se propõe a ser uma autoridade absoluta, mas sim a repassar o máximo de informações sobre moda, estilo e comportamento que reuniu ao longo dos anos, sempre reforçando que é preciso imprimir sua marca pessoal em tudo e se manter dentro do estilo em que você se sente confortável. Achei fofa.

A edição que eu li tem capa dura e páginas com uma gramatura maior, o que deixa o livro com um jeito de diário e, consequentemente, de segredos. O clima é leve e amistoso, como se uma amiga ou irmã mais velha estivesse te dando conselhos sobre a vida e te ajudando a escolher a roupa que vai usar na festa de alguém.

Eu li a edição da minha amiga mais “it”, então tudo acabou ganhando um tom mais forte de rosa, porque era como se ela também estivesse ali me passando aqueles conselhos. Foi uma sensação gostosa, de deixar o coração quentinho.

É um daqueles livros perfeitos para ler depois de uma história pesada, para refrescar as ideias.

:)