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22 de junho de 2016

[Resenha] O dariz (ou: um ode à ridite e às buitas gribes da vida)

Título: O dariz (Original: Le nez)
Autor: Olivier Douzou
Editora: Cosac Naify
Gênero: Infantil
Ano: 2009

Insdagram ;)

[corte para o passado] Bienal de Arte de São Paulo, 2010, Ibirapuera. Eu, em uma excursão, passeando pelo prédio e encontrando um stand vendendo livros. Eu encontrando uma edição lacrada d"O Dariz", me apaixonando pela ideia e sem poder folhear. Eu com R$5 no bolso e sabendo que o livro custava R$50. Eu indo embora no ônibus da excursão, arrasada, pronta para passar os aniversários e natais seguintes avisando a todos que eu queria ganhar esse livro. [volta para o presente].

Muitos anos depois daquela Bienal, continuava a vontade de ler essa história lindinha, que é um grande ode à vida dos que tem rinites e gripes com a frequência dos alérgicos. Uma conversa no Skype, com uma amiga que também é #teamrinite, trouxe a lembrança de volta. E a lembrança me levou pro Google, que me levou para a Amazon, que finalmente trouxe o livro até as minhas mãos.

A grande graça do livro é que ele é esgrito cobo ze focê estifesse com o dariz entubido. Ou seja, besbo esdando bem, focê é forçado a ler desse jeito. É buito dificil. E buito legal!

O dariz Olivier Douzou, Resenha, Foto, Trecho, Imagem, Página, Ranking, Avaliação, Livro
Belhor livrinho
Essa edição tem capa dura e é toda ilustrada. Um livro infantil sim, mas que foge do clichê das cores gritantes, ilustrações animadas, pop-ups. Ideal para estimular nas crianças a leitura e o contato com os livros, mas ainda assim sendo uma experiência muito divertida e estimulante.

O enredo é bastante simples. Um belo dia, um Dariz acordou dodo endupido e entra em uma jornada para encontrar o grande lenço branco, se assoar e finalmente desentupir. No caminho, ele encontra outros darizes – um de palhaço, um de elefante, um de porco, um botão-que-pensa-que-é-nariz – para acompanhá-lo nessa aventura. 

Para facilitar sua experiência, vou fazer um tutorial rápido.

COMO APROVEITAR “O DARIZ”

- Encontre uma ou mais crianças ou pessoas com alma de criança (a gosto).
- Pegue o livro e separe meia hora ou mais do seu tempo.
- Leia em voz alta.
- Está pronta sua experiência, parabéns!

O dariz Olivier Douzou, Resenha, Foto, Trecho, Imagem, Página, Ranking, Avaliação, Livro
Dão bode zer!

O livro é a coisa mais gracinha da vida e eu ainda estou apaixonada por ele. Quero ler para todos os meus filhos imaginários. Cinco estrelas FÁCIL, disparado um dos melhores livros infantis da vida. Se você tem uma criança na família (ou um amigo com rinite e bom humor), essa é uma ideia de presente diferente e divertida. É uma história infantil que não transforma o livro em uma reprodução da TV, com uma única frase e 25 páginas com ilustrações gigantescas. Um livro com cara de livro (e de gripe). Muito bacana! :)


15 de junho de 2016

[Resenha] O canto do Dodô (ou: a Louca-da-Biologia)

O canto do Dodô David Quammen Resenha Biologia Ciências Extinções
Título: O canto do Dodô (Original: The song of the Dodo)
Autor: David Quammen
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Romance/Ciências Bilógicas
Ano: 2008

Instagram :)

Esse livro me ganhou na sinopse. Eu estava numa feira de livros (a mesma em que comprei "Diga aos lobos que estou em casa") e estava sendo muito cuidadosa para escolher, porque só poderia levar 2. Mas quando eu li a contracapa e entendi que esse seria um livro para entender o que estava acontecendo com o mundo e qual era a nossa parte nisso (enquanto humanidade), eu virei a louca-da-biologia, saí por aí carregando esse livro de 700 páginas na bolsa para todos os cantos e passei o mês inteiro falando sobre ele com todo mundo que eu pude.

Foi um mês divertido para todo mundo que estava perto, como vocês podem imaginar.

Escrito pelo jornalista David Quammen, esse livro levou vários anos para ser escrito e envolveu muita pesquisa, tanto bibliográfica quanto de campo. Quammen, no maior estilo Richard Rasmussen, visitou as ilhas mais longínquas do planeta para ilustrar o tamanho do problema em que estamos metidos: uma extinção em massa, grande como a do meteoro que inviabilizou a vida dos dinossauros. Só que dessa vez a natureza não tem muito a ver com isso. É, basicamente, culpa da nossa interferência no ambiente.

"Houve extinções antes e muitas extinções desde então, mas a extinção do dodô foi particularmente importante porque foi a primeira vez, a primeira vez em toda a história da humanidade, que o homem se deu conta de que ele havia provocado o desaparecimento de uma espécie."

Não vou desenvolver aqui todos os exemplos, tão sensacionais quanto o do Dodô, trazidos pelo Quammen nesse livro, porque todos eles são muito válidos e muito interessantes. Quammen personifica a luta pela preservação das espécies por meio de personagens muito interessantes, cientistas, pesquisadores, ambientalistas, moradores locais, populações inteiras, cidades, ilhas. Suas histórias enriquecem a narrativa e tornam o debate mais pessoal: o que as pessoas estão fazendo pelas espécies ameaçadas? E o que EU poderia estar fazendo?

Apesar da situação alarmante e do tom muitas vezes técnico, esse também é um livro com muitas tiradas engraçadas. Quammen é um narrador divertido, capaz de extrair uma risada até mesmo de situações mais tensas. Seu bom humor durante as situações mais inusitadas – um quase naufrágio, um assalto no Rio de Janeiro, visitar uma ilha habitada somente por formigas, conhecer uma pessoa que cria lagartos como se fossem gatinhos, etc – traz uma leveza que facilita a leitura e torna o assunto menos apavorante. "O mundo está acabando, sim, mas ouve esse causo, que bacana". Sei lá, me identifico.

"Segundo Darwin, as tartarugas de Santiago eram mais arredondadas e também mais pretas, além de terem 'melhor sabor quando cozidas' (Hoje em dia, os taxonomistas de tartarugas têm de abrir mão das evidências do paladar)"

Esse é um livro de grandes questões. Quanto tempo ainda temos antes de um colapso generalizado? Alguma dessas situações ainda é reversível? As espécies ameaçadas ainda tem chances de sobreviver? Quammen busca algumas dessas respostas, mas esse não é o objetivo central da narração. O que ele quer é instigar o debate. As ideias podem surgir de qualquer lugar, por mais improvável que pareça, por isso é extremamente importante que a gente continue divulgando as grandes perguntas.

Mesmo sendo um livro complicado de ler (tanto pelo peso teórico quanto pelo peso literal das 700 páginas), recomendo a todos que têm interesse em biologia, atualidade e meio ambiente. É um livro bem interessante, com dados científicos traduzidos para nós, que não somos cientistas. Vale a leitura e vale, principalmente, a reflexão. Até onde nosso estilo de vida vai nos levar?

O Canto do Dodô - Editora Companhia das Letras - David Quammen - Resenha - Avaliação - Ranking

Bônus - Essa reflexão saída diretamente das páginas desse livro:

O canto do dodô David Quammen Resenha Avaliação Trecho Citação História


10 de junho de 2016

[Resenha] O oceano no fim do caminho (ou: melancolia sobrenatural)

O Oceano no Fim do Caminho Capa Neil Gaiman Resenha - The Ocean at the end of the lane Review Cover
Título: O oceano no fim do caminho (The Ocean at the End of the Lane)
Autor: Neil Gaiman
Editora: Intrínseca
Gênero: Fantasia/Infanto Juvenil
Ano: 2013

No instagram :)

Eu não consigo pensar em Neil Gaiman sem me lembrar de Sandman. Foi o meu primeiro contato com o mundo das Graphic Novels e HQs adultas e eu me apaixonei pelas histórias sombrias e bizarras. Ainda fico encantada sempre que vejo algo relacionado e sigo carregando a vontade de ler toda a coleção do personagem (segura essa dica de presente hein?). Mas o fato é que, desde Sandman, cada vez que eu leio o nome do Gaiman no topo de uma capa, eu já tenho certeza de duas coisas: 1) eu quero ler; e 2) eu quero ler imediatamente.

Sandman Neil Gaiman Sonho Morpheus HQ Grafic Novel


Essas certezas ficam ainda maiores quando a capa em questão é tão linda e o nome do livro é tão legal. Quando eu vi minha colega lendo isso no trabalho, já saí perguntando sobre a sinopse e acabei e pedindo emprestado (sou dessas, desculpa).

O Oceano no Fim do Caminho - Capa- Neil Gaiman - Editora Intrínseca - Resenha - Avaliação
Olha que capa mais linda, cute-cute, vontade de apertar
Quis tanto conhecer essa história que li em um fim de semana, embora estivesse no meio da leitura de outro livro (“O canto do Dodô”, a próxima resenha aqui do blog). Li em duas respiradas. E valeu demais a pena!

O “Oceano no Fim do Caminho” do título é um lugar real, central no livro e na vida do protagonista (que não tem nome). Sem saber direito o motivo, nosso herói foge de um velório e dirige a esmo, até perceber que está indo em direção à casa onde morou na infância (atualmente demolida) e seguindo até o fim do caminho onde ela ficava – e onde ele vai se encontrar com um pedaço perdido de sua história.

Sentado diante do Oceano, que na verdade é um lago nos fundos da fazenda da família Hempstock (inclusive, MELHOR FAMÍLIA), ele vai relembrando pontos da sua infância que ele não sabia que lembrava. Na verdade, pontos que ele não sabia que tinha esquecido. Trechos nebulosos desse passado vão se interligando, puxando-o pela mão e nos levando junto para um passeio melancólico e sobrenatural.

O livro tem uma pegada bem tranquila de ler, com cara de conto, em que os acontecimentos não demoram e se entrelaçam de jeito leve. Ao mesmo tempo, o enredo e os personagens têm profundidade e são verossímeis. São explorados vários assuntos tensos ao longo da história. Gaiman trabalha nesse livro com os medos, o amadurecimento, a luta contra a escuridão que ronda o mundo. Mas mesmo assim, muitas vezes, a história segue uma linha que poderia facilmente ser explorada em filme infanto-juvenil. É bacana!

O ponto alto desse livro é com certeza o desenvolvimento dos personagens. A construção de todos eles é interessante, com destaque especial para as três integrantes da família Hempstock, Lettie , sua Mãe e sua Avó. Elas são misteriosas, sábias, corajosas, e suas histórias são indefinidas - é tudo parte do charme. Faz parte da graça não saber muito sobre elas além do fato de que elas são badasses caça-monstros. Tipo Sam e Dean Winchester, de Supernatural. Só que de saias e tranças.

Embora o final seja bastante melancólico, é um livro muito gostoso e muito rápido de ler. Ótimo para ler depois de um livro de estudo, depois de uma história muito cansativa, ou em um fim de semana de chuva, para aproveitar bem a vibe Gaiman. 4 estrelas, mas só porque uma ou outra ponta fica solta. De resto, só alegria!

O Oceano no Fim do Caminho - Neil Gaiman - Editora Intrínseca - Resenha - Avaliação - Ranking